O estudante Rian Augusto Rosa foi espancado na saída da escola em Jardinópolis, SP — Foto: Arquivo Pessoal
Amigos de Rian Augusto Rosa, que foi espancado na saída da escola em Jardinópolis (SP), estão se unindo em uma campanha para arrecadar doações à família e ao tratamento do jovem, hospitalizado há nove meses em estado vegetativo irreversível, em decorrência das agressões.
Lançada há menos de duas semanas, a campanha “Amigos do Rian” já contabiliza 1,9 mil seguidores e arrecadou R$ 1,5 mil, que estão sendo usados pela família nos gastos com as visitas diárias ao hospital em Batatais (SP), onde Rian está internado.
“Minha mãe não deixa de vê-lo todos os dias. Ela diz que não vai abandonar o filho. O meu irmão cuidava muito dela. Então, ela diz que sempre contou com ele. Agora, quando ele é quem precisa, ela não vai abandoná-lo”, conta Nélida Sanchez Garcia, irmã de Rian.
Nélida explica que os pais sobrevivem com uma aposentadoria de R$ 2,1 mil. Por isso, os custos com o tratamento de Rian pesam no orçamento. Além do gasto com combustível, o casal gasta R$ 18,60 por dia com o pedágio na rodovia entre as duas cidades.
“O hospital fornece as fraldas e as medicações. O restante, a gente tem que levar: sabonete, xampu, toda a parte de higiene pessoal. A gente também está buscando a ajuda de um fisioterapeuta, porque pode ajudar um pouco, dar uma qualidade de vida melhor”, diz.
Os pais cantam 'Parabéns a você' no dia do aniversário de Rian Augusto Rosa, na Santa Casa de Batatais (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
Com as doações, os pais já conseguiram comprar forrações e travesseiro ortopédicos, além de placas de hidrogel, usados para sustentar Rian, que permanece deitado o tempo todo. O jovem perdeu muito peso e, sem movimento, o corpo também está ficando atrofiado.
“Em uma semana, as pessoas começaram a se mobilizar. Algumas fizeram depósitos, outras entregaram em mãos. Estão arrecadando alimentos, recolhendo produtos de higiene pessoal para levar ao hospital. Estamos felizes com a mobilização”, afirma.
Campanha
A criação da página no Facebook foi uma iniciativa de um amigo de Rian, o vendedor Vinícius Petrovick, que mora em Ribeirão Preto (SP). Ele conta que ficou chocado ao saber do espancamento, porque enfrentou uma situação semelhante há seis anos.
“Fui agredido por quatro meninos, mas tive sorte porque um amigo me defendeu. Saí quase ileso, só fiquei com marcas no rosto. Foi por motivo banal, por fofocas. Não fiz boletim de ocorrência porque fiquei com medo. Então, imagino o quanto o Rian sofreu”, relembra.
A dona de casa Dulce Helena Rosa massageia os pés do filho, Rian Augusto Rosa, na Santa Casa de Batatais — Foto: Arquivo Pessoal
Sem notícias sobre o estado do amigo, Vinícius passou a publicar mensagens no perfil dele no Facebook. Em abril, Nélida acessou a página e entrou em contato com o vendedor. A partir daí, os dois iniciaram a campanha. As doações são recebidas diretamente pela irmã de Rian.
“A família dele é muito simples, eu vi a mãe dele dando entrevista, percebi que são pessoas humildes. Então, resolvi ajudar de alguma forma. Mas, não imaginava que a campanha chegaria tão longe. Fiquei surpreso com a repercussão e fico muito feliz”, diz Vinícius.
Estado irreversível
Advogada que representa a família de Rian, Sandra de Morais Peporini conta que a equipe médica foi categórica em relação à saúde do jovem: o quadro vegetativo é irreversível, porque a área do cérebro afetada pelo espancamento não tem recuperação.
“A família está desesperada, precisa de recursos, além do desgaste emocional. Uma mãe olhar todos os dias para o filho que era saudável, cheio de vida, no auge dos 17 anos, naquele estado, definhando em uma cama, é muito triste”, relata.
Rian Augusto Rosa foi espancado na saída de escola estadual em Jardinópolis, SP — Foto: Paulo Souza/EPTV/Arquivo
Acusados do crime, Donizete Alfredo Bosco Campos, de 28 anos, e Kayê Mendes Pinheiro dos Santos, de 21, estão presos preventivamente e respondem por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe e meio cruel que impossibilitou a defesa da vítima.
Rian foi atacado no dia 5 de setembro de 2018, ao deixar a escola estadual Professor Plínio Berardo. Segundo o Ministério Público, ele caminhava em direção ao ponto de ônibus, quando foi abordado por Donizete e começou a ser espancado.
Kayê levou Donizete até o local e, de dentro do carro, acompanhou as agressões. Ainda de acordo com o MP, Rian foi jogado ao chão e recebeu vários chutes na cabeça e chineladas no rosto. A vítima permaneceu em posição fetal enquanto era agredida, sem chance de reação.
“O caso é tão grave que a promotora propôs uma reconstituição, e o pedido foi deferido. O Donizete não tem nem como alegar que a queda provocou esse ferimento. Para ele ser machucado da forma como foi, houve excesso”, defende Sandra.
Advogado de Donizete, Carlos Borzani disse que o cliente relatou que jamais teve intenção de ferir ou matar Rian, e que o jovem bateu a cabeça no chão, após uma briga entre eles.
Procurada pelo G1 em outras oportunidades, a defesa de Pinheiro dos Santos informou que não vai se manifestar sobre o caso no decorrer do processo. O caso está em fase de audiências na Justiça de Jardinópolis.
Rian Augusto Rosa segue internado na Santa Casa de Batatais, SP — Foto: Ronaldo Oliveira/EPTV/Arquivo