O Centro de Progressão Penitenciária (CPP), localizado na divisa de Ribeirão Preto com Jardinópolis, registrou quatro fugas em menos de 24 horas.
O prédio, alvo de muitas polêmicas, foi inaugurado em 18 de setembro e recebeu os presos, em regime semiaberto, em 27 de setembro.
A primeira fuga ocorreu domingo à noite, quando dois presos pularam o alambrado e correram em direção a um canavial, nos fundos da unidade.
Na segunda-feira à tarde mais dois presos passaram pela cerca de proteção e fugiram pela plantação.
Nos dois casos, agentes penitenciários viram as fugas e chegaram a ir atrás, mas até agora nenhum dos quatro fugitivos foi recapturado. A busca contou com o apoio da Polícia Militar Rodoviária.
Muita polêmica
Desde que o governo do Estado anunciou a construção do CPP na rodovia Cândido Portinari (SP 334), na alça de acesso para Jurucê (distrito de Jardinópolis), a população se mobilizou contra a decisão.
A Associação Comunitária do Distrito de Jurucê chegou juntar 15 mil assinaturas - de moradores do distrito e de Jardinópolis - contra o CPP e enviar o documento ao governo do Estado.
A Câmara de Ribeirão Preto também teve uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para analisar a situação. “Em todos os aspectos essa unidade prisional é prejudicial para a região. Ela fica muito perto de bairros da zona Norte de Ribeirão Preto”, explicou o vereador Jorge Parada (PT), que comandou a CEE.
O prefeito de Jardinópolis, José Jacomini (PPS), também não poupa críticas ao CPP. “Os presos fugiram e a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) nem avisou à prefeitura. É como se Jardinópolis e Jurucê não existissem”, protestou o prefeito.
Segundo revelou o chefe do Executivo de Jardinópolis, a prefeitura conseguiu uma liminar na Justiça local para impedir a transferência de presos para o CPP. No entanto, a decisão foi revertida dias depois no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
“Agora estamos conversando com o Ministério Público Estadual para ver o que é possível fazer”, concluiu o prefeito.
Sossego é marca registrada
Mesmo estando a 20 quilômetros de Ribeirão Preto e a três de Jardinópolis, o distrito de Jurucê é pacato. As três mil pessoas que moram no local temem que o distrito perca o clima interiorano.
“A gente fica com medo de algum desses fugitivos vir para a cidade. Tentamos de tudo para impedir a construção”, disse Maria Hélia de Oliveira.
Pedro Silva critica o sistema de segurança do CPP. “O local só tem alambrado. Não tem muro. Qualquer um pode pular. Ontem [segunda-feira, dia 21], após a fuga, a polícia veio para cidade e causou tumulto”, disse o aposentado.
“A cidade é muito tranquila e não queremos de forma alguma que isso mude”, falou a comerciante Neide Riul. A mesma opinião tem Antonio Carlos Teixeira. “Jurucê é muito sossegada e não queremos que isso mude”, opinou.
Promotor critica fugas
O promotor Wanderlei Trindade Júnior, acostumado a atuar na área da Penitenciária de Serra Azul, disse que o regime semiaberto é mais propício às fugas, mas que isso não pode ocorrer com tanta frequência.
“O regime semiaberto é bem mais flexível, mas tem que ter fiscalização. O preso busca a ressocialização, mas ainda está cumprindo pena. Quando os sentenciados atingem esse benefício, eles precisam ter muita autodisciplina para não fugir”, explicou Trindade.
“Mesmo assim é preciso contar com um sistema de vigilância eficaz”, explicou o representante do Ministério Público.
Para o promotor, quatro fugas em 24 horas demonstram que houve falha do Estado. “A Secretaria de Administração Penitenciária precisa tomar providência para evitar que mais casos ocorram”, finalizou Trindade.
CPP não tem vigilantes com armas
Através da assessoria, a SAP confirmou as fugas e afirmou que os vigilantes da CPP não trabalham armados e que a unidade não conta com muralhas - tem apenas alambrados.
“A permanência do preso, nesse regime, se caracteriza muito mais pelo senso de autodisciplina e autorresponsabilidade, que propriamente por mecanismos de contenção contra evasão”, informou a SAP.
“Os presos do semiaberto têm permissão para cinco saídas temporárias por ano”, disse. A SAP também garantiu que tomou todas as providências possíveis para tentar recapturar os fugitivos.